Recentemente (em 2022) houve uma polêmica sobre o LinkedIn ter excluído uma vaga que dava explícita preferência a candidatos negros e indígenas.
Tomou uma grande proporção, vários posicionamentos e protestos contra o LinkedIn, por estar indo contra ações afirmativas que buscam garantir direitos a minorias que, de diversas formas, são marginalizadas e desfavorecidas por conta da estrutura social na qual vivemos.
Depois destes protestos e pressão, o LinkedIn revisitou suas políticas e agora é possível divulgação deste tipo de vaga. Entretanto, uma nova discussão começou a surgir. Afinal, a polarização é nosso bichinho de estimação, não é mesmo?
Políticas afirmativas para negros e indígenas incorrem em exclusão de pessoas brancas que, outrora, teriam assegurado o direito de concorrer a estas vagas? Há quem diga que sim, há quem diga que não. E como eu não gosto de ficar nessa disputa pelo sim e pelo não, achei massa deixar alguns centavos de contribuição. Aprecie sem moderação.
– Que absurdo existir vagas apenas para pessoas negras e indígenas. Tira a possibilidade de outros concorrerem! Isso gera mais exclusão, poxa.
Vi bastantes posicionamentos assim. Aliás, não só agora, mas em diversos momentos em que são discutidas políticas afirmativas.
Claro que a postura mais comum é rebater esse argumento, dizendo que políticas afirmativas são importantes. Principalmente quando somos (eu incluso) pessoas inclinadas a questões sociais.
Entretanto, ao mesmo tempo, compreendo a indignação de algumas pessoas. De fato, deliberadamente criar espaço para uns tira, diante do que antes era dado como garantido, a possibilidade de outros. Ao menos, no que concerne ao desejo de também concorrer àquela vaga, por exemplo.
E sabe uma coisa triste, do ponto de vista utópico de cuidado e bem-estar?
No jogo que jogamos coletivamente, não há espaço para todos. Ao menos, não para cuidar de todos como cada um gostaria de ser cuidado. Essa é a natureza do jogo que jogamos.
Vez ou outra, vamos ajustando algumas regras para que o jogo fique mais inclusivo, ou menos injusto, para alguns. Quiçá, mais equilibrado.
Inevitavelmente reverberará em perda de benefício e privilégio para outros. Ou, quem sabe, ausência de possibilidade. Como no caso de ser impedido de acessar uma vaga que, outrora, era acessível a qualquer candidato.
É válido lembrar que nem só de regras explícitas se faz um jogo, mas de regras implícitas também. E, dedicando-se a uma análise menos emocionada, e fazendo um estudo um tanto sério, podemos ver que há regras implícitas que garantem mais possibilidades a alguns, e menos a outros.
Políticas afirmativas buscam balancear o jogo, que é composto de regras explícitas e implícitas.
E, de novo: a merda disso tudo é que não é possível todo mundo ganhar como gostaria. As assimetrias vão seguir existindo, quer a gente queira, quer não.
De fato, existem algumas estruturas desse jogo que, ao movê-las, ou transformá-las, contribuiriam para que pudéssemos chegar a um lugar onde não precisaríamos discutir sobre políticas afirmativas. Ou sobre um tirar o espaço do outro.
Entretanto, quanto mais profunda a mudança numa estrutura, mais intenso será o impacto em todos que nela se sustentam.
Disputar por vagas. Investir nossa energia em troca de recurso financeiro. Fazer algo que não necessariamente é nosso talento, mas importante para nosso sustento. Sair de uma empresa, ir para outra. Se frustrar ao não conseguir, levantar a cabeça e seguir em frente.
Tudo isso, é parte do jogo. E olha que mencionei meia dúzia de aspectos “bobos” sobre trabalho. Há muito mais envolvido, né?
Existiriam outros caminhos? De certo sim…
Mas, sabe… eu não me sinto seguro em dizer que estou preparado para mudanças mais estruturais em como o mundo e as relações se organizam. Não sei quais custos seriam necessários pagar. Quais mudanças eu precisaria fazer.
No discurso, eu topo. Na prática, tenho medo.
Ser humano é um treco complicado. Tá doido.