De olho nas polêmicas

Lula no primeiro turno ou não, eis a questão

– Tempo de leitura: 3 minutos

Maio de 2022. Tá rolando treta entre pessoas que se reconhecem como esquerda. Um apontar de dedos para determinados atores sociais (de maior ou menor relevância) que escolhem ter um posicionamento diferente do que é entendido como o mais necessário: Lula no primeiro turno.

Consigo compreender, cognitivamente, o desejo quase que automático de muitos cancelarem, silenciarem, ensinarem, mandarem por a mão na consciência e refletir, e tantas coisas mais, quem escolhe não apoiar Lula no primeiro turno.

Falo cognitivamente aqui pelo simples fato de olhar para essas discussões a partir de um aspecto racional e dialógico, argumentativo.

Se tu tá nessa vibe, vai fundo. Mete o dedo mesmo. Critica. Expõe. Cancela. Faz barraco. Quem sou eu pra dizer algo sobre. Não tô aqui pra te fiscalizar não.

Mas, tô aqui para provocar, né. Porque… eu sou assim. E estudo coisas que me levam a esse lugar de provocação.

Quando a gente tá certo de um caminho, e sabemos que este é O CAMINHO, e assumimos que o outro não enxerga O ÓBVIO que a gente enxerga, é notório que a gente tenta convidar o outro a olhar para O CERTO A SE FAZER.

Porém. Contudo. Entretanto. Todavia…

Ser humano tem uma certa reatividade a ser colocado contra a parede, saca?

Imagina eu aqui, chego e falo: – Você que fica mandando os outros votar no Lula por ser o único caminho, é um cuzão do caramba. Fica com esse papinho aí, só escondendo um autoritarismo que se justifica no que você acha.

Acho… suponho… que o sangue vai ferver. As mãos vão suar. As veias do pescoço começarão a saltar. O rosto, vermelhar. Ou alguma outra coisa que remeta a raiva, incômodo. Desconforto. Discordância.

Então, porque raios você acha que apontar o dedo na cara do amiguinho vai fazer ele querer escutar você? Me diz?

Claro. Talvez a gente não queira realmente escutar. Tampouco que ele nos escute. Talvez, queiramos que ele apenas faça o que a gente diz que tem que ser feito. Sem questionar.

Não tá errado não, viu. Só não sei se isso contribui para um relacionar-se saudável com o outro. Principalmente quando esse outro tá logo ali do seu lado das trincheiras.

Precisamos ser sinceros né… tem uma guerra aí. Ela tem dois lados distintos. Não vou ser cínico e dizer que não há. Quem quer manter o mandato. Quem quer tirar o cara de lá.

Sim, eu tô ligado que tem uma urgência urgentíssima que bate na porta, quando temos um comportamento impetuoso para cima do amiguinho da trincheira. Talvez, um certo desespero: – Gente, outubro tá logo ai.

– Discursinho merda, Sérgio! isso não resolve nosso problema, viu?

Tô ligado que não resolve. Se eu te disser que tenho algo que vá resolver nosso problema, interne-me. Tô com as ideia desajustada e preciso de apoio. Afinal, que raios de ser humano que se consideraria Deus onipresente e sabedor de todas as coisas?

No fundo, depois de toda uma ladainha, só quero te dizer que, talvez, escutar o seu amiguinho pode contribuir para ele ser seu aliado.

Escutar. Escutar. Escutar. E se expressar.

Criar um espaço genuíno para expressar suas dores. Seus medos. Seu desconforto. E escutar os dele, certamente. Um papo sincero.

– Porra mano, tô com um medo do cacete de Bolsonaro ganhar, cara. Tenho preocupação com as políticas públicas, saca? Aliás, sei que mesmo sem ele ganhar, já deu ruim. Então eu fico ansioso querendo que um primeiro turno vitorioso diga algo pro coletivo, sabe?

– Cara, ainda que discorde de você não votar no Lulinha no primeiro turno, tenho curiosidade para compreender sua escolha. Afinal, tu já sabe a minha, né? Ainda que eu queira te convencer, e você sabe disso também, quero genuinamente escutar de onde você parte com suas escolhas.

Essas, são duas expressões possíveis dentro de uma conversa que poderia rolar. Logicamente se eu detalhar uma conversa aqui, vou escrever um livrinho, né?

Escutar dá um trabalho desgraçado. É um consumo de energia monumental. Incerto por natureza. Talvez passemos uma hora trocando, e nada mude. Quer dizer, não alcançamos nosso objetivo. Convencer o outro.

Mas tudo isso que estou te dizendo, eu tô partindo da premissa que apontar o dedo na cara do amiguinho não vai contribuir para que ele se convença do que você quer. Do contrário, normalmente tende a trazer mais ranço. Reforçar a opinião dele.

Escutar é investir na relação. É criar espaço para construção.

Mas num mundo onde parar e olhar nos olhos é perda de tempo, talvez escutar seja a última, quiçá nem seja uma, opção.

Não tô entrando no mérito de falar sobre privilégio e outros temas mais que são transversais a esse diálogo. Se eu for abordar toda a complexidade que envolve isso, vira uma tese. E isso é só uma provocaçãozinha rápida, mané.

Não gostou, faz parte. Colhe o que faz sentido. Descarta o que não faz. Aponta o nariz pro horizonte. Vida que segue. Claro, se quiser, senta o dedo em mim e me chama de alienado ou relativista, inoportuno. Principalmente se não reforcei sua expectativa, né?

Aliás. Eu vou votar no Lula no primeiro turno ou não?

Te interessa não. Mas se quiser dialogar, simbora.

Sergio Luciano
Um mineiro que gosta de conversar, aprender com o cotidiano e escrever. Investiga psicologia junguiana, comunicação não violenta, poder, privilégio, democracia profunda, dentre outros temas, para tentar entender um pouco mais esse negócio de relacionar-se com o diferente.
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