Quando você está diante de quem pensa diferente, escutando aquela groselha marota, que só Jesus sabe de onde saiu (afinal, você está convicto de que o outro está redondamente enganado), qual a sua intenção em se manter nessa troca?
1. Esfregar na cara dele que ele está errado e ensinar o que é certo.
2. Aguentar heroicamente as baboseiras ditas até um deslize dele para dar uma rasteira e apontar o dedo para as incoerências.
3. Contra-argumentar e equilibrar a coisa, mostrando pra ele que você também tem voz.
4. Compreender de onde ele parte com suas opiniões.
5. Buscar conexão pra além das divergências de opinião.
Eis aí o primeiro passo para quem deseja ativamente engajar com quem pensa diferente.
Logo em seguida é importante se perguntar do que sua intenção quer cuidar. Olhar pra dentro. Fazer autoempatia. Compreender de onde parte sua escolha.
Aqui, uma pegadinha: você não precisa escolher o caminho mais empático não. Qualquer caminho que citei acima, ou algum outro, você tem total liberdade de escolher. Jamais serei moralista e direi que você PRECISA ser empático.
Cada um sabe das dores e delícias de ser quem é. E onde o calo aperta.
O que posso te dizer é: seja consciente daquilo que escolhe. E do porquê escolhe A e não B.
Isso está conectado ao “papel” que estamos assumindo nas interações que temos.
Se estamos no papel de professor, provavelmente vamos querer ensinar onde o outro está errado e o que ele precisa aprender.
Se estamos no papel de ativistas, provavelmente iremos defender uma causa rechaçando e combatendo aquilo que está sendo dito.
Se estamos no papel de escutador, talvez queiramos escutar empaticamente o que está por trás das falas e buscar conexão.
Se estamos no papel de vítima, pode ser que nos silenciemos com incômodo e desconforto, ou nos expressamos de forma intensa pra expressar nossa dor.
E assim poderíamos imaginar diversos outros papéis com os quais nos identificamos, conscientes ou não, durante uma troca. Papéis esses que, às vezes, se alternam num piscar de olhos.
Tudo isso que falei é apenas uma possível maneira de enxergar as relações. Não define as relações. Não define as pessoas. Não é algo cristalizado. É, tão somente, um norte. Um apoio para darmos passos um pouco mais conscientes.
Gosto de trazer essas perspectivas porque, muitas vezes, achamos que só “saber falar” de um jeito A ou B se basta para manter a conexão. E, para além do como falar, tenho percebido que SABER PENSAR a complexidade é um passo anterior.
Estamos em 2022. Ano de eleição. As conversas vão se acirrar. A polarização, aumentar. Sim, tem como aumentar.
E em meio aos extremos das direitas e esquerdas, há de se ter pessoas disponíveis e hábeis em dialogar e discutir com qualidade.
Afinal, em meio aos extremos há muita gente. A maioria esmagadora.
Essas, são só pessoas que não tem o mesmo desejo aflorado de mudança que você tem. Essa certeza que você carrega sobre “o caminho certo”. A sua sensibilidade aos problemas e mazelas sociais. O seu ativismo pela causa A ou B. As urgências que você enxerga.
São só pessoas que tem preferências distintas. Preocupações outras. Pessoas que pensam pouco ou muito diferente de você, mas não são gente perversa, cuzona, racista, fascista, nazista, ou outros “istas” mais.
São gente como a gente, mas de um jeito diferente.
A atenção delas está sendo disputada. E quando você chega de voadora e com dois pés no peito, com os dedos apontados e briguentos, levando-a pra um lugar de coação ou vergonha, a probabilidade de conexão diminui.
Claro que cultivar a escuta não é garantia alguma de que ela será mais aberta ao que você tem a dizer. Mas, ao menos, talvez seja menos pior que o caminho da treta e apontar de dedos.
Agora, você TEM QUE fazer algo que eu disse?
Jamais! Faça o que quiser. E, de novo, responsabilize-se pelas suas escolhas. E pelos possíveis impactos que elas possam ter.
Ah, se você acha que tudo que eu trouxe é relativismo e os outros precisam sim mudar, e pipipi pópópó… segue na caminhada e na fé. E lê o texto de novo. Acho que não pegou a visão.