A honestidade de Chacal
Então, eu disse em tom confiante: “Olha, eu sou sincero viu. Se eu acho que a pessoa é uma idiota que não sabe do que está falando, eu falo na cara e pronto. Afinal, valorizo muito a honestidade.”
Esse exemplo mostra como expressamos nossa ‘honestidade de Chacal’. Falamos nossas opiniões, aquilo que acreditamos e o que pensamos sobre os outros.
O Chacal se considera honesto ao expressar seus pensamentos e opiniões tal qual aparecem na cabeça, carregados de julgamentos. Porém, expressar julgamentos raramente cria conexão com a pessoa julgada.
A honestidade de Girafa
O maior diferencial da honestidade de Girafa é que ela busca, ao mesmo tempo, cuidar da necessidade de honestidade e da necessidade de cuidado com a pessoa à qual se refere.
A Girafa entende que julgamentos apontam para necessidades não-atendidas. Portanto, ela busca ouvir e acolher seus julgamentos internamente primeiro a fim de identificar as necessidades presentes. Na sequência, pode expressar-se honestamente usando os elementos da CNV (lembre quais são revisitando as dicas 1 a 6). Expressar-se a partir de necessidades em vez de julgamentos aumenta a probabilidade de estabelecer conexão com o outro, uma das premissas da CNV.
Vamos praticar?
1) Pense em alguma frase que é difícil de ouvir, referindo-se à outras pessoas, à situação do país, a algum tema sensível a você. Aquela que tão logo alguém diz você já solta os cachorros.
Ex: “Esse pessoal que não consegue as coisas na vida é um bando de preguiçoso. É só trabalhar duro que chega lá.”
2) Pegue uma caneta e papel e anote aquilo que você sente ao escutar essa frase.
Ex: Eu me sinto com raiva, triste, incomodado, desconectado, angustiado, revoltado
3) Agora, anote as necessidades que são descuidadas ao ouvir essa frase.
Ex: Pra mim é importante:
- Respeito: quando ouço essa frase, fico incomodado porque acho importante compreender e respeitar a realidade de cada indivíduo e não definir uma regra única e enfiá-la goela abaixo
- Empatia: fico triste, porque fico com a sensação de que não está havendo empatia por pessoas em situações sociais diferentes
- Tranquilidade e equidade: pra mim é importante buscar mais equidade nas relações. E me angustio ao ver alguém trazendo essa frase, pois fico com a sensação de que tudo está ruindo. E perco minha tranquilidade.
- Valorização: pra mim é importante valorizar a caminhada das pessoas e o esforço que elas fazem. Dizer que não conseguem por serem preguiçosos, pra mim descuida muito do que vejo como valorização.
4) Depois dessa investigação, como poderia comunicar aquilo que é importante pra você, de forma honesta? (lembre da dica 7, sobre ser girafa natural e girafa clássica)
Ex: “Olha, fico bem angustiado escutando você. Eu tenho outra visão sobre trabalhar e conquistar, pois acredito que acessar recursos financeiros, educação de qualidade e cuidados com a saúde também contribuíram pra chegar onde estou. E se outras pessoas não tem acesso a isso, me pergunto se posso definir uma mesma régua (minhas necessidades de empatia, respeito, valorização estão implícitas nesta fala).”
5) E como você poderia se conectar com as necessidades e sentimentos desta pessoa?
Ex: “Tô vendo que você fica incomodado com o governo oferecendo subsídios para um determinado grupo de pessoas, pois acredita que ele seria melhor aplicado (necessidade de eficiência) em outras políticas públicas de apoio a esse grupo. E, do jeito que está hoje, você acha importante mais transparência sobre para onde vai o dinheiro?”
6) Pratique. Pratique. Pratique. Reflita sobre situações do cotidiano que você tenderia a ‘soltar os cachorros’ e investigue o que é importante pra você. Imagine o que seria importante para a outra pessoa também.
7) Desenvolver a empatia é como fortalecer um músculo. Quanto mais praticamos, mais preparados estamos para os conflitos do cotidiano.