Era 18h, quando Maria liga para João:
– Ei João. Eu, Felipe e Fernanda planejamos ir ao cinema às 20h. Vamos com a gente?
– Ah, quero ficar em casa. Estou cansado demais.
– Nossa, você nunca aceita nossos convites. Que amigão você é, viu.
– Meu, tive um dia longo. Preciso de tranquilidade.
– Affff. Ir ao cinema não iria aumentar seu cansaço. Você vive dando desculpas…
A todo tempo estamos fazendo propostas para as outras pessoas. Porém, nem sempre elas estão dispostas a fazer aquilo que esperamos. E aí que está a grande diferença:
Se não estamos dispostos a escutar um ‘não’, provavelmente estejamos fazendo uma exigência e não um pedido.
– Ah, então quer dizer que estou fazendo tudo errado?
Não. Não estamos querendo definir o que é certo ou errado fazer. Porém, achamos importante trazermos para consciência de que lugar partem nossas ações.
Exigências
Quando vemos nossa proposta como único caminho, sem querer contemplar ajustes e/ou alternativas, fazemos uma exigência. E, ao escutar um não, nossa reação será insistir, culpar, ameaçar uma punição, prometer uma recompensa e impor nossa vontade à força.
Pedidos
Quando ouvimos um não, talvez sintamos tristeza, incômodo e desconforto por não obter aquilo que queríamos. E está tudo bem nos sentirmos assim.
Primeiro, por podermos lembrar que estes sentimentos não são causados pelo outro (leia Dica 2). Segundo, porque estes sentimentos nos contam sobre as necessidades presentes que ainda não atendemos (leia Dica 3).
E como a outra pessoa também busca atender as suas próprias necessidades, seu ‘não’ está dizendo que ela não consegue ver como essas seriam cuidadas ao aceitar o pedido que fizemos. Portanto, um ‘não’ nem sempre é definitivo, absoluto. Ele pode significar um ‘não agora’, ‘não nestas condições’. Nos dispondo a manter o diálogo, temos possibilidade de encontrarmos uma proposta que recebe um ‘sim’ de ambos.
Voltemos ao exemplo, com uma nova abordagem de Maria.
Para Maria, era importante a companhia de João. Ir ao cinema juntos era uma forma de alimentar a amizade entre eles. Além de o cinema ser sua estratégia preferida para se divertir.
Pensando sobre a ligação, ela percebe que João disse que precisava de tranquilidade e descanso. Então, ligou novamente para ele:
– Oi João, sinto muito por antes. Me dei conta que pra mim seria importante sua companhia. Valorizo sua amizade e, como adoro cinema, achei que era uma boa forma de me divertir contigo. Porém, só agora percebi que você precisa de tranquilidade e descanso, e o cinema não seria um bom lugar pra isso. Podemos pensar em algo divertido para fazermos juntos, talvez em outro momento?
– Ah, que bom que você me ligou. Eu estava meio angustiado porque também valorizo nossa amizade. Agora que perguntou, pensei em irmos ao boliche no final de semana. Poderíamos ir eu, você, Felipe e Fernanda. O que acha?
– Ah! Perfeito! Não sabia que você gostava de boliche. Que tal sábado às 19h?
– Sim, é um dos meus esportes favoritos. Combinado às 19h.
– Perfeito. Hoje no cinema eu falo com o Felipe e a Fernanda.
– Ótimo. Nos vemos no sábado!
A ideia não é fazer o pedido perfeito. Tampouco falar da forma mais bonita possível para convencer as pessoas a fazerem o que queremos (leia a Dica 4).
A essência do pedido pode ser traduzida numa pergunta: “Como podemos caminhar juntos?”. Ou seja, buscar soluções que levem em consideração as necessidades de ambos.
E quando começamos a conscientemente buscar caminhos juntos, mudamos para um paradigma de inclusão e cooperação. Esta mudança é fundamental para relações mais saudáveis e satisfatórias.
Vamos praticar?
1. Lembre de uma situação onde, ao fazer um pedido, você recebeu um não ou percebeu que a pessoa não estava disposta a atendê-lo.
2. O que você pensou e/ou disse depois disso? Seguiu o caminho da exigência ou do pedido?
3. Quais necessidades você buscava atender? E a outra pessoa, quais necessidades dela você imagina que ela não viu como seriam atendidas ao dizer ‘sim’ para seu pedido?
4. A partir dos aprendizados dessa Dica, como você agiria agora diante deste ‘não?
5. Durante a semana, escolha conscientemente as situações onde você gostaria de estender o diálogo para além do ‘não’ e encontrar caminhos que cuidem de ambos.
6. Escreva aqui nos comentários quais foram seus desafios, dúvidas e/ou aprendizados.