João estava estudando, quando Felipe entrou na sala e ligou o aparelho de som e começou a escutar música. Incomodado, João disse: – Desligue esse som!
Tão logo ouviu o pedido, Felipe desligou o som e ligou a televisão. Então, começou a assistir televisão. Novamente incomodado, João esbravejou: – Desligue essa televisão que eu estou estudando! Caramba!
Felipe ficou consternado. Afinal, havia feito o que João pediu e não entendeu o porquê de desligar a televisão.
Entediado, Felipe continuou no sofá e se pôs a pensar. Com uma prancheta, papel e lápis em mãos, batia o lápis na prancheta enquanto pensava.
Mais uma vez, o sangue de João começava a subir… e a continuação da história você pode imaginar.
Por trás do pedido de João havia uma necessidade de tranquilidade e foco, pois estava se dedicando a estudar matemática. Matéria que ele tem extrema dificuldade.
João supôs que seria óbvio que ele precisava de tranquilidade e foco. A partir dessa suposição, fez um pedido vago, que não expressava o que ele realmente precisava. Consequentemente, as ações escolhidas por Felipe continuaram a descuidar do que era importante pra ele.
Veja que não estamos falando sobre existir uma forma certa ou errada de expressar um pedido. A questão é que quanto mais clareza trazemos, maior a probabilidade de encontrar soluções que cuidem de nós e das outras pessoas ao mesmo tempo.
Então como podemos fazer pedidos mais factíveis e claros? Vamos a algumas dicas:
1. Peça aquilo que você quer que seja feito, ao invés de pedir aquilo que você quer que para/deixe de fazer
2. Seja o mais específico possível: Expresse quem, quando e o que gostaria que fosse feito
3. Integre no pedido a(s) necessidade(s) que procura atender através do pedido
Vamos ver como João poderia fazer um pedido para Felipe, a partir destas dicas?
“Olha Felipe, estou estudando matemática, que é um tema que tenho muita dificuldade. E fico bem ansioso e tenso durante estes estudos. Será que nas próximas 2h poderíamos manter o silêncio aqui na sala? Assim eu consigo ter mais tranquilidade e foco.”
Talvez Felipe não esteja disposto a atender este pedido e responda: “Não”. Isso pode acontecer se ele não vê como a aceitação deste pedido cuida de suas próprias necessidades. Então, este ‘não’ se torna um convite para manter um diálogo empático e encontrar estratégias que levem em consideração as necessidades de ambos.
Mudar a forma como fazemos pedidos é um exercício árduo de desconstrução de padrões já enraizados. De tomar consciência e fazer novas escolhas em cada interação que temos.
E para apoiar essa desconstrução, vamos praticar?
1. Pense sobre uma situação na qual você fez um pedido onde faltou clareza e chegou num desfecho de desconexão.
2. Quais sentimentos e necessidades estavam presentes?
3. Agora, mais consciente das características de um pedido, como você o reformularia? Pense em 3 ou 4 formas de fazer esse pedido.
4. Caso seu pedido não seja atendido, imagine como você se sentiria. Reflita sobre o porquê. Use como informação para entender o que é importante pra você.
5. Repita os passos 1 a 4 pensando numa situação atual que você enfrenta e seria importante fazer um pedido claro e factível.