Estes dias uma pessoa disse que eu não poderia usar a palavra autoempatia.
– Autoempatia não existe. Invente outro nome.
Tipo, foi taxativa. Inventem outro nome. Esse não pode, tá?
A pessoa, estudante da língua portuguesa.
Eu reconheci que do ponto de vista gramatical talvez não exista mesmo. E trouxe que nem tudo se resume a linguística.
Trouxe que era um termo específico, dentro do contexto que estudo, para falar sobre a possibilidade de olhar para nossos “eus”, as partes da gente que nem sempre gostamos e talz. Comentei sobre meu desconforto nesse policiamento de uma palavra sem argumentações e sem rigor.
Confesso que fui meio chato, por já ter outras pessoas pentelhando com a ideia de que “autoempatia não existe”. Tentei amenizar (em vão) me desculpando de antemão por soar grosseiro.
Enfim, a pessoinha me disse que eu queria inventar moda e que não leria minha resposta. E ainda me tatuou um “total desinteresse com a língua”.
Ressaltei ainda que talvez linguisticamente de fato não exista. Mas isso não invalida o uso dessa palavra em contextos nas quais ela queira denotar algo que é importante assimilar.
Celebrei a liberdade de criticar. Enlutei que não houve possibilidade de aprofundar o tema e debater. Mantive a porta aberta, caso houvesse futuro interesse. Claro, não respondi de forma fofa e empática, era debate mesmo.
Fui chamado de pedante. Descobri que tô colaborando para a anarquização da língua. A moça me sugeriu melhorar.
Eu até poderia abrir mão de debater e oferecer escuta. Me conectar com o cuidado com a língua. Com a intenção de contribuir com o meu aprendizado. Com a vontade de partilha de um saber que a moça tem, baseado em seu caminho.
Poderia. Poderia. Poderia mesmo.
Mas nem sempre tô afim.
Às vezes eu faço autoempatia. Aí, percebo-me de saco cheio. Então, tô só a fim de mandar alguém pro quinto dos infernos mesmo. Mas como mandar pro quinto dos infernos eu acho deselegante, acabo só batendo boca mesmo.
–
Esse é só um texto idiota sobre algo idiota com o qual eu idiotamente fiquei puto, encasquetei e gastei meu tempo. Respondendo a moça, e agora escrevendo. Não tô mais puto, só admirado com a autoempatia ter sido cancelada.
Mas, olha…tu não é idiota se até agora tá lendo.
Por mais idiota que eu diga que seja, tem uma profundidade aí nessa história. Só que pra honrar a inutilidade do escrito, vou comentar não. Fica pra você pensar. Ou não.
Ah! Acho que vou chamar autoempatia agora de abacaxi. Já que tô anarquizando a língua mesmo, simbora fazer direito.
Voltamos à programação não idiota no próximo texto que você ler neste blog.