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A habilidade de olhar por diferentes perspectivas em ‘seis chapéus’

– Tempo de leitura: 4 minutos

“Era uma vez um homem que pintou um lado do seu carro de branco e o outro de preto. Seus amigos lhe perguntaram por que ele havia feito uma coisa tão estranha. Ele respondeu: ‘Porque vai ser muito divertido, caso eu venha a sofrer um acidente, escutar as testemunhas se contradizendo no tribunal.'”

Essa breve história representa algo muito comum nas discussões e conflitos que temos no cotidiano: falarmos da mesma situação, mas a partir de perspectivas diferentes. Uma consequência provável dessa diferença de perspectiva seja cada uma das partes assumir uma visão contrária e confrontadora, defendendo sua própria visão ou invalidando a visão do outro.

Temos pontos de vista diferentes e isso é natural. Óbvio, claro. Porém, a capacidade de navegar por diferentes perspectivas é uma habilidade. E é sobre essa habilidade que quero falar com você hoje, sob a perspectiva do livro “Os seis chapéus do pensamento”, de Edward de Bono.

Os seis chapéus do pensamento

O autor traz, de forma simples e prática, um método pautado em seis diferentes tipos de pensamento. Cada um deles se tornou um chapéu que pode conscientemente ser colocado durante uma discussão, para olharmos juntos sob a perspectiva que ele representa. São eles:

Chapéu branco -O branco é neutro e objetivo. O chapéu branco está relacionado a fatos e números objetivos.

Chapéu vermelho – O vermelho indica raiva e outras emoções. O chapéu vermelho apresenta uma visão emocional.

Chapéu preto – O preto é sombrio e sério. O chapéu preto está vinculado à cautela e ao cuidado. Aponta para os pontos fracos de uma ideia.

Chapéu amarelo – O amarelo é ensolarado e positivo. O chapéu amarelo é otimista e está associado à esperança e ao pensamento positivo.

Chapéu verde – O verde é a cor da grama, da vegetação e de todo crescimento fértil e abundante. O chapéu verde sugere criatividade e novas ideias.

Chapéu azul – O azul é sereno e a cor do céu, que está acima de qualquer outra coisa. O chapéu azul refere-se ao controle, à organização do processo de pensamento e à ordem de utilização dos demais chapéus.

O risco de não percebermos os diferentes chapéus

Para seguir, falemos sobre uma situação comum no trabalho.

Durante a reunião, Carlos compartilhou sobre o novo projeto que estava desenvolvendo dentro da empresa. Animado, contava sobre como iria impactar e trazer bem-estar para todo o time. (chapéu amarelo)

Em dado momento, Felipe interveio e disse que parecia uma ideia muito bonita, mas que não acreditava que daria certo. Afinal, reduziria o tempo que os funcionários têm para se dedicar às atribuições do cargo. (chapéu preto)

Carlos prontamente rebateu, dizendo que Felipe era muito pessimista e vivia olhando para números. Felipe respondeu dizendo que o problema era que Carlos vivia no mundo das ideias e não tinha noção da realidade. (conflito surgido por conta de diferentes perspectivas para a mesma situação).

Quando uma pessoa fala a partir de um determinado chapéu e outra responde a partir de outro chapéu, pode ser que chegue para quem falou como uma negação de sua expressão. Em algumas situações, isso leva a uma discussão e ataques pessoais. Em outras, na redução da disposição de futuramente querer contribuir com suas ideias e opiniões. São diversos os impactos da não compreensão e do não acolhimento das diferentes perspectivas.

Com o passar do tempo, existe ainda o risco de rotular as pessoas de acordo com suas expressões mais corriqueiras. Quem costuma expressar suas preocupações (chapéu preto) é o chato que trava tudo. Quem expressa mais frequentemente seu otimismo (chapéu amarelo) é quem esquece da realidade e vive sonhando. Quem tende a expressar sentimentos (chapéu vermelho) é o descontrolado emocionalmente. E por aí vai.

O benefício de estarmos atentos aos diferentes chapéus

Voltemos à situação de Carlos e Felipe.

Quando Carlos compartilhou sobre o novo projeto e mencionou sua animação em relação à previsão de um aumento no bem-estar do time, Felipe imaginou que Carlos se expressava a partir do chapéu amarelo. Percebeu também que surgiu um frio na barriga dentro de si, que falava sobre o risco de impactar na produtividade da empresa (chapéu preto).

Felipe disse para Carlos que percebia um otimismo com esse projeto, e que ficava curioso para saber mais como ele via que poderia contribuir para a empresa (acolhendo o chapéu amarelo). Então, Carlos seguiu por mais alguns minutos apresentando o projeto e impactos esperados.

Então, Felipe agradeceu a Carlos pela apresentação e pediu para olharem, juntos, para os pontos de atenção e riscos da implementação (convite para, conscientemente, colocarem o chapéu preto juntos). Expressou que estava preocupado com a produtividade da empresa e que gostaria de expor algumas ponderações para que o projeto ficasse ainda mais adequado às necessidades da empresa.

Quando estamos conscientes e atentos a como esses seis chapéus se manifestam, tanto em nós como no outro, conseguimos tomar uma decisão consciente de escolher com qual deles queremos interagir. Conseguimos ser mais inclusivos e acolhedores com as expressões de outras pessoas e saímos do jogo de certo e errado.

Percebendo que todos temos essas perspectivas dentro de nós, por um lado, mas que, por outro lado, aparecem em momentos distintos, podemos evitar os rótulos que colocamos nas pessoas por conta de expressarem somente uma dessas perspectivas.

Aliás, qual chapéu você percebe que mais usa nas suas interações? Nas minhas, o amarelo é o que mais frequentemente “está na minha cabeça” e o preto é aquele que tenho mais dificuldade de lidar.


Este artigo escrito por Sérgio Luciano foi originalmente publicado no blog da UOL Ecoa.

Sergio Luciano
Um mineiro que gosta de conversar, aprender com o cotidiano e escrever. Investiga psicologia junguiana, comunicação não violenta, poder, privilégio, democracia profunda, dentre outros temas, para tentar entender um pouco mais esse negócio de relacionar-se com o diferente.
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